6 de maio de 2016

Imperialismo, militarismo e propaganda nos Estados Unidos, parte 2

Por Icles Rodrigues

Chegamos à segunda parte do artigo "Imperialismo, militarismo & propaganda nos Estados Unidos". Esta parte se dedica a discutir como a mídia estadunidense foi fundamental para o crescimento do militarismo nos EUA e este, consequentemente, foi fundamental para a expansão imperial do país pelo globo. 

PARTE 2
O “REBANHO ASSUSTADO”: DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL AO FIM DA GUERRA FRIA

Walter Lippmann
A expressão “fabricação do consenso” é atribuída a Walter Lippmann, jornalista que, durante a década de 1920, teria sido “o decano dos jornalistas americanos, um dos principais críticos das políticas interna e externa e também um destacado teórico da democracia liberal”.[1] Este teria teorizado a respeito de como a propaganda era uma ferramenta fundamental no desenvolvimento de um consenso público que endossasse a determinados interesses. Noam Chomsky trabalha esse conceito, por vezes sozinho, em outras em conjunto com outros pesquisadores como Edward S. Herman, e discute a respeito do que ele chama de “rebanho assustado”, um conceito interessante para se discutir o papel da mídia na sociedade.

Em Controle da Mídia: os espetacularesfeitos da propaganda, o autor discute – e isso é importante para a compreensão desta ideia de “rebanho assustado” – que existem duas definições do que seria, de fato, a democracia. A primeira delas afirma que “uma sociedade democrática é aquela em que o público tem meios de participar de maneira significativa na condução de seus próprios interesses e os meios de informação são abertos e livres”,[2] definição semelhante a que seria encontrada nos dicionários. Chomsky continua:
Outra concepção de democracia é aquela na qual o público deve ser barrado da administração de seus interesses e os meios de informação devem ser mantidos estreita e rigidamente sob controle. Pode parecer uma estranha concepção de democracia mas é importante compreender que é a predominante.[3]

Lippmann defendia que um grupo de pessoas politicamente esclarecidas deveria tomar as decisões pelo povo, pois “os interesses comuns confundem completamente a opinião pública” e só poderiam ser compreendidos e administrados por uma “classe especializada” de “pessoas responsáveis” gabaritadas para tal tarefa.[4]
Ele [Lippmann] argumentava que uma democracia que funciona corretamente tem várias classes de cidadãos. Em primeiro lugar, a classe dos cidadãos que têm algum papel ativo na condução dos assuntos gerais. É a classe especializada. Ela é formada por pessoas que analisam, executam, tomam decisões e conduzem as coisas no sistema político, econômico e ideológico. É uma pequena porcentagem da população. Naturalmente, quem desenvolve tais ideias sempre se inclui nesse pequeno grupo e decide o que fazer a respeito de todos os outros.[5]

Conforme Chomsky, nessa divisão de classes, as funções estariam divididas entre, basicamente, essa “classe especializada” e o “rebanho assustado”, cuja função dentro desta noção de democracia predominante é a de ser espectador e dar suporte àqueles que se colocam a sua disposição para administrar a sociedade, por serem ignorantes demais para saber o que é melhor para si mesmos.

Fica claro o posicionamento de Chomsky contra a democracia representativa na qual não apenas os Estados Unidos, mas grande parte do mundo se encontra. O autor defende seus posicionamentos anarquistas com afinco, e não é diferente nesta análise. Independente de concordância ou não com seus posicionamentos políticos, seus argumentos a respeito da forma como a democracia é ditada na sociedade estadunidense são sólidos, e a progressão do papel da mídia no decorrer do século XX apenas fez reforçar a importância para essa suposta democracia vigente da “fabricação do consenso”.

A mídia durante as grandes guerras mundiais

A Primeira Guerra Mundial surgiu à revelia de quaisquer atitudes militaristas por parte do governo e das elites dos Estados Unidos, mas estes souberam, melhor do que ninguém, tirar proveito do conflito que devastou grande parte da Europa. A guerra ofereceu a oportunidade de estabilizar a economia do país e, diante da propaganda militarista, amenizar a pressão de conflitos sociais internos.

"Eu quero você para o Exército dos Estados
Unidos", famoso pôster de recrutamento
militar da Primeira Guerra Mundial.
Durante a campanha de Woodrow Wilson, a plataforma “Paz sem vitória” foi o mote defendido pelo futuro presidente, eleito em 1916 em meio à guerra. A população, ou ao menos sua maioria, era pacifista e não tinha interesse em participar de uma guerra que não era sua. Contudo, tempo após sua eleição, foi criado um comitê de propaganda governamental – o Comitê de Informação Pública, conhecido como “Comissão Creel” –, que em seis meses, “conseguiu [...] transformar uma população pacifista em histéricos beligerantes, determinados a destruir tudo o que fosse germânico, esquartejar alemães, ir à guerra e salvar o mundo”.[6]

Nesse momento o Estado assumiu poderes econômicos e sociais elevados, sob instituição de novos impostos, criação de órgãos centralizados responsáveis pela organização da produção e distribuição, além de regularem a indústria voltada para a guerra. A linguagem referente ao ‘nacionalismo’, à ‘democracia’ e à ‘liberdade’ era uma constante na vida cotidiana, e apenas as alas radicais do movimento sindical e socialista se posicionaram, coletivamente falando, contra a participação do país na guerra. Como resultado dessa propaganda, esse suposto nacionalismo e patriotismo tiveram papel crucial na repressão às greves gerais que tomaram conta entre 1918 e 1919.[7] “O Espionage Act (Lei de Espionagem), de 1918, restringiu a liberdade de expressão, censurou jornais, e proibiu qualquer atividade contrária aos objetivos do governo na guerra”.[8] Nada mais democrático.

A Primeira Guerra Mundial teve como consequência solidificar as bases ideológicas do imperialismo estadunidense, mas coube à Segunda Guerra Mundial alavancar seu militarismo.[9]

Nunca um conflito na história dos Estados Unidos teve o mesmo consenso popular, em quantidade, quanto a Segunda Guerra Mundial, e nunca mais viria a ter. Até mesmo o Partido Comunista passou a apoiar a intervenção estadunidense quando a União Soviética foi invadida pelas forças nazistas; uma guerra que colocou fim à Depressão, praticamente erradicou o desemprego, dobrou o PIB do país e deu trabalho a milhares de mulheres, negros e imigrantes.[10]

Apesar da retórica antinazista e antifascista que pautou a propaganda, dando ênfase à libertação de povos oprimidos, apenas o conflito entre os impérios do Pacífico garantiu a entrada dos Estados Unidos no conflito. Como afirma Sean Purdy,
A invasão italiana da Etiópia (em 1935), a Guerra Civil Espanhola (de 1936 a 1939), na qual cidadãos americanos foram proibidos por seu governo de lutar no lado republicano, a tomada da Áustria (em 1938) e as invasões da Polônia e da Tchecoslováquia por Hitler (em 1939) – nenhum desses eventos provocou a entrada dos Estados Unidos na guerra.[11]
           
Apenas o conflito de interesses sobre as zonas de influência de Japão e Estados Unidos no Pacífico fez com que a participação do segundo se concretizasse, mais precisamente após o ataque surpresa à base de Pearl Harbor, principal base naval dos Estados Unidos no momento.

"Vinguem Pearl Harbor: nossas balas farão isso"
Poster de propaganda da Segunda Guerra Mundial
Apesar disso, sabe-se que o governo Roosevelt estava se preparando para a guerra havia pelo menos três anos, embora houvesse resistência de alguns elementos das elites econômicas. Foi preciso que um ataque formal fosse realizado para que os ânimos belicistas fossem avivados, culminando em uma intensa propaganda em benefício de uma intervenção militar no conflito. Até então, alguns eminentes estadunidenses como Henry Ford, Charles Lindbergh e o embaixador dos Estados Unidos na Inglaterra, Joseph Kennedy, pai de John F. Kennedy, se mostraram abertamente simpáticos a aspectos do regime nazista.[12]

E essa simpatia, de forma não tão clara assim, se expandia para outros estadunidenses politicamente influentes, no momento ou futuramente. Um número inexato de criminosos de guerra foi recrutado pelos Estados Unidos – a despeito de toda retórica antinazista – para trabalhar para o serviço secreto de inteligência do país. O exemplo mais célebre foi o recrutamento de Klaus Barbie, oficial da SS que havia sido chefe da Gestapo em Lyon, na França, onde recebeu o carinhoso apelido de “Açougueiro de Lyon”. Quando este foi levado à França para julgamento, em 1982, o coronel Engene Kolb, do corpo de contra-espionagem estadunidense, afirmou que “as ‘habilidades’ [de Barbie] eram um mal necessário”.[13]

A “febre patriótica” – termo usado por Sean Purdy – após o ataque contra Pearl Harbor era intensa. “Milhões de jovens, homens e mulheres alistaram-se nas Forças Armadas [...] e a população aceitou com certa docilidade o racionamento de comida e produtos essenciais”.[14] As “quatro liberdades” expressadas por Roosevelt – expressão, religião, segurança econômica e democracia – eram consideradas pilares do esforço militar, a despeito de perseguições aos dissidentes contrários à guerra, contrariando qualquer ideia de liberdade de expressão e democracia; em 1942, o Escritório de Informação de guerra é fundado, e este lança uma campanha massiva de propaganda, empregando imprensa, rádio, cinema e demais mídias para incitar a mobilização, militar ou econômica. A cultura da mídia em geral aderiu aos esforços, e mesmo Stalin, o “Tio Joe”, era um ícone popular nos quadrinhos e em Hollywood.[15] Os incentivos aos investimentos privados contribuíram para que a concentração de renda nas mãos de elites se acentuasse.

As conveniências e contradições – ou hipocrisias, se preferir – da propaganda estadunidense estiveram relacionadas, também, com a polêmica do holocausto. Tanto os Estados Unidos quanto outros países se recusaram a receber imigrantes judeus que fugiam do regime nazista, para não citar sindicalistas, socialistas, deficientes físicos, ciganos, gays, lésbicas, entre outros que eram perseguidos pelos nazistas e eliminados brutalmente em grande parte dos casos. Mesmo quando fortes evidências do extermínio em massa perpetrado pelos nazistas apareceram, a mídia e o governo estadunidense praticamente ignoraram a informação, um indicativo do anti-semitismo existente no momento.[16] Também não houve protestos diante da intensa perseguição aos estadunidenses de origem nipônica, sendo que cerca de 110 mil deles, que viviam na Costa Oeste foram levados para campos de prisioneiros, privados de seus ‘direitos democráticos’.[17]

Intervencionismo e invasão: Coréia, Vietnã e América Latina

Mais do que trazer benefícios econômicos internos, a Segunda Guerra Mundial promoveu a derrocada das rivais industriais dos Estados Unidos. Graças a ela, o país se tornou detentor de cerca de 50% das riquezas mundiais e controlava os dois lados do oceano; “Nunca houve um período na história em que uma nação tenha tido um controle e uma segurança do mundo tão esmagadores”, argumenta Chomsky a respeito desse período, e não sem razão.[18] O povo desejava a desmobilização do exército, mas o governo tinha outros planos.

O período de relativa paz não durou muito. Em pouco tempo, a suposta ameaça da Guerra Fria, na corrida econômica e armamentista das duas grandes potências do período – EUA e União Soviética – se mostrou próxima da onipresença na cultura da mídia do país, resultando não apenas no não cumprimento do desejo popular de desmobilização militar, mas também o início do “império de bases” estadunidense, como Chalmers Johnson o classifica. Dessa forma, se criou o “maior contingente militar já mantido pelos Estados Unidos em tempos de paz”.[19]

Os interesses imperialistas do governo estadunidense precisavam de apoio popular constante, como fora até então nos demais conflitos em que o país esteve envolvido, e a suposta ameaça comunista foi a desculpa perfeita para que, durante quase cinquenta anos, a mobilização militar fosse constante e o intervencionismo ao redor do globo aumentasse vertiginosamente. Como se não bastasse o aumento do orçamento militar, questões de seguridade social foram não apenas ignoradas, como hostilizadas ideologicamente, como as tentativas de se emplacar um plano de saúde nacional e habitações públicas, derrubadas no Congresso sob a falácia de serem agendas socialistas.[20]

Em todas as análises das intervenções estadunidenses ao redor do globo durante a Guerra Fria, Noam Chomsky pontua que o principal objetivo do país é manter um status quo político e econômico no mundo, onde os Estados Unidos sejam a liderança proeminente. As intervenções na Coreia, no Sudeste Asiático e América Latina, por exemplo, tinham como objetivo suprimir governos cujas políticas tivessem inclinação ao bem-estar interno de seus habitantes, ou mesmo – e principalmente – governos de inspiração comunista, ainda que as duas coisas fossem vistas como uma só pelos ideólogos estadunidenses. O que o autor argumenta, por exemplo, no decorrer de O que o Tio Sam realmente quer – ainda que o faça em diversas outras obras suas – é demonstrar como estes países, mesmo sendo economicamente e militarmente insignificantes em relação aos Estados Unidos, poderiam prosperar individualmente voltados para o mercado interno e, assim, dar um mal exemplo a outras nações que poderiam seguir o mesmo caminho. Todo exemplo bem sucedido de governo e economia opostos ao capitalismo e a ‘democracia’ dos Estados Unidos deveriam ser eliminados, para não influenciarem outros locais.[21] Sobre as supostas ameaças à hegemonia dos EUA vindas do resto do mundo, Johnson afirma:
Ensinamos terrorismo de Estado a milhares de militares ou policiais latino-americanos na Escola das Américas, mantida pelo exército em Fort Benning, na Geórgia. Temos utilizado a CIA e o Fundo Monetário Internacional para efetuar “mudanças de regimes” mediante golpes de Estado, assassinatos políticos ou desestabilização econômica, sem falar que bombardeamos ou invadimos países que condenaram nossa hegemonia ou se opuseram a ela. As vítimas civis dessas operações típicas de Guerra Fria foram numerosas.[22]
E nesse sentido, a cultura da mídia estadunidense em geral foi muito participativa na defesa dos interesses do governo e de seus militares.

Antes do conflito conhecido como Guerra da Coreia, os Estados Unidos intervieram na região, dissolvendo o governo popular local, composto majoritariamente por antifascistas que lutaram contra os abusos do exército japonês durante a Segunda Guerra. Fazendo uso da polícia fascista japonesa e de coreanos que compactuaram com o Japão durante a invasão, a intervenção foi responsável pela morte de cerca de cem mil pessoas.[23]

"Você está atravessando agora o paralelo 38". O paralelo 38 foi tomado como linha divisória
entre as duas coreias, e acabou por ajudar a definir a divisão como esta se encontra hoje.
Já a Guerra da Coreia se iniciou com a intervenção em 1950, onde o governo dos Estados Unidos ajudou o ditador da parte sul do país, que no momento estava dividido, após esta ter sido invadida pelas tropas do ditador da parte Norte; este último possuía inspirações comunistas e era apoiado pela União Soviética. Dispostos a não permitir que o ditador do norte saísse vitorioso, o governo aumentou significativamente os gastos com armamentos e, como afirma Johnson, com o desenvolvimento de armamentos nucleares e bases ao redor do mundo: “Os gastos com defesa nacional elevaram-se de 150 bilhões de dólares em 1950 (calculados segundo o poder de compra da moeda em 2002) para quase 500 bilhões em 1953”.[24]

O mesmo pode-se dizer do caso do Vietnã. No início, ao contrário do que muito se diz, não houve grande resistência ao conflito. Em geral, se acreditava em declarações como as de Adlai Stevenson (e outros) quando estes diziam que os EUA estavam “defendendo o Vietnã do Sul contra a agressão interna”, ou em termos mais realistas, cometendo atos de agressão deliberada à população sul-vietnamita.[25] Sobre o fato de que no começo houve pouca resistência por parte da população estadunidense à guerra, Noam Chomsky diz:
Em 1962, anunciou-se que aviões militares norte-americanos estavam bombardeando o sul do Vietnã, e não houve protestos. Os Estados Unidos usaram guerra química para destruir cultivos de alimentos e impelir milhões de pessoas para “aldeias estratégicas” – essencialmente, campos de concentração. Tudo isso foi publicado, mas não houve protestos; era impossível fazer com que alguém se manifestasse a respeito. Mesmo numa cidade liberal como Boston, não era possível realizar reuniões públicas sobre a guerra porque os estudantes as impediam, com apoio da mídia. [...] Os protestos somente aconteceram depois de muitos anos de guerra. Nessa altura, centenas de milhares de pessoas haviam sido mortas e grande parte do Vietnã fora destruída.[26]

Apenas após algum tempo de conflito a cultura da mídia passou a fazer uso da crítica à guerra em seus produtos, embora produções de caráter belicista continuassem em voga, num conflito de contradições políticas e ideológicas comum em praticamente qualquer contexto. De acordo com Kellner, “a sociedade é um grande campo de batalha, e que essas lutas heterogêneas se consumam nas telas e nos textos da cultura da mídia e constituem o terreno apropriado para um estudo crítico da cultura da mídia”.[27]

Chomsky vai mais além a respeito do conflito no Vietnã; ele afirma ser um dos poucos pesquisadores que argumenta ter tido os Estados Unidos uma vitória estratégica no Vietnã, apesar de não ter sido uma vitória completa. Para o autor, o principal objetivo do país na Indochina foi atingido: o Vietnã foi destruído, e não havia chance de um bem-sucedido exemplo de desenvolvimento econômico surgir daquele país. A ameaça do mal exemplo estava erradicada.[28]

Guerra do Vietnã
Mas não era o único exemplo a ser erradicado. Perguntado em 1961 por um jornalista sobre a intervenção crescente no Vietnã, Bobby Kennedy, secretário de Justiça do governo de John F. Kennedy – seu irmão –, este respondeu: “Nós temos 30 Vietnãs”.[29] E, de fato, a influência dos EUA no resto do mundo em países supostamente perigosos, do ponto de vista ideológico e/ou econômico era crescente. Quanto à propagação de ideias perigosas em outras partes do mundo, além do Vietnã, os Estados Unidos “evitaram também sua propagação, apoiando a tomada de poder na Indonésia por Suharto, em 1965, promovendo a queda da democracia nas Filipinas por Ferdinando Marcos, em 1972, e apoiando a lei marcial na Coreia do Sul e na Tailândia”.[30] Além destas, podemos citar a derrubada de governos parlamentaristas, com apoio ou intervenção direta, no Irã, em 1953, na Guatemala, em 1954 e 1963, no Congo em 1963, na República Dominicana, em 1963 e 1965, no Brasil, em 1964, no Chile, em 1973, no Uruguai em 1974, na Argentina em 1976, entre outros.[31]

Na América Latina, a influência dos EUA foi especialmente brutal, como afirma Chomsky:
O que as forças contra-insurgentes americanas fizeram com a Nicarágua, ou o que os nossos substitutos terroristas fazem em El Salvador ou na Guatemala, não é apenas matança comum, o principal componente é a tortura brutal e sádica, batendo bebês contra pedras, pendurando mulheres pelos pés, com os seios cortados, a pele do rosto escalpelada, para sangrarem até a morte, ou cortando a cabeça de pessoas, colocando-as em estacas.[32]

Boa parte das maiores atrocidades cometidas na região tiveram lugar durante os anos 1980 e o governo de Ronald Reagan, período onde filmes de “volta ao Vietnã”, nas palavras de Douglas Kellner, fizeram muito sucesso, ou mesmo outros exemplares de filmes que tinha alguma inclinação favorável à guerra, e onde os supostos inimigos externos eram representados como vilões. “Hollywood alimentava essa mentalidade militarista e punha à disposição representações culturais que mobilizavam apoio a tal política de agressão”, argumenta Kellner.[33]

A paranóia militarista, sempre reiterada por essa cultura da mídia com o objetivo de manter uma possibilidade constante de mobilização, teve um grande impulso entre o fim da década de 1980 e início da de 1990, no momento de transição entre o Governo Reagan – fortemente anticomunista e cuja dívida com os gastos militares chegou a US$ 2,6 trilhões em 1988[34] – para o governo de George Bush pai, e no contexto do conflito que é conhecido como Guerra do Golfo, ou Primeira Guerra do Golfo, se levarmos em consideração a guerra contra o Iraque a partir de 2002.





[1] CHOMSKY, Noam. Controle da mídia: os espetaculares feitos da propaganda. Rio de Janeiro: Graphia, 2003, p. 14.
[2] Ibid, p. 9.
[3] Ibid., p. 9-10
[4] Ibid., p. 15.
[5] Ibid., p. 16.
[6] Ibid., p. 11.
[7] KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2010, p. 194.
[8] Idem.
[9] Por uma questão de espaço, deixarei de lado uma discussão aprofundada sobre o contexto entre as duas guerras, que possui importância histórica fundamental. Os picos de elevação na economia estadunidense e suas posteriores crises foram cruciais para o desenvolvimento dos acontecimentos, bem como diversos outros fatores sociais como a repressão baseada em classe, nacionalidade, etnia, etc., além do contexto internacional. A base material é fundamental para a compreensão deste panorama, e para tal, deixo a nível de recomendação o já citado História dos Estados Unidos, de Leandro Karnal et. al. e: RÉMOND, René. O século XX: de 1914 aos nossos dias. 12ª ed. São Paulo: Cultrix, 2005.
[10] KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos, Op. cit, p. 217-218.
[11] Ibid., p. 218.
[12] Ibid., p. 219.
[13] CHOMSKY, Noam. O que o Tio Sam realmente quer. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1999, p. 23.
[14] KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos, Op. cit, p. 221.
[15] Ibid., p. 223.
[16] Ibid., p. 220-221.
[17] Ibid., p. 225.
[18] CHOMSKY, Noam. O que o Tio Sam realmente quer. Op. cit., p. 9.
[19] JOHNSON, Chalmers. As aflições do império. Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 8-9
[20] KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2010, p. 227.
[21] CHOMSKY, Noam. O que o Tio Sam realmente quer. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1999.
[22] JOHNSON, Chalmers. As aflições do império. Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 83.
[23] CHOMSKY, Noam. O que o Tio Sam realmente quer, Op. Cit., p. 22.
[24] JOHNSON, Chalmers. As aflições do império, Op. Cit., p. 70.
[25] CHOMSKY, Noam. Ambições imperiais. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006, p. 113.
[26] Ibid., p. 43-44.
[27] KELLNER, Douglas. A cultura da mídia: estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-moderno. Bauru: EDUSC, 2001, p. 79.
[28] CHOMSKY, Noam. O que o Tio Sam realmente quer, Op. Cit., p. 76.
[29] KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2010, p. 238.
[30] CHOMSKY, Noam.. O que o Tio Sam realmente quer, Op. Cit., p. 74. KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos, Op. cit, p. 242.
[31] CHOMSKY, Noam. O que o Tio Sam realmente quer. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1999, p. 27.
[32] Ibid., p. 27-28.
[33] KELLNER, Douglas. A cultura da mídia: estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-moderno. Bauru: EDUSC, 2001, p. 104.
[34] KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2010, p. 270.